Principal responsável pelo
desenvolvimento da fosfoetanolamina sintética, substância que o colocou no
centro de uma gigantesca polêmica com a classe médica brasileira, Chierice
chegou a Porto Alegre na quarta-feira, com cinco pesquisadores de sua equipe, para
assinar um acordo com o governo do Estado.
Governo investirá R$ 10 milhões em pesquisas da fosfoetanolamina
O termo de cooperação foi articulado
por Marlon Santos, da base de apoio do governador José Ivo Sartori, e prevê que
Laboratório Farmacêutico do Rio Grande do Sul (Lafergs) pesquisará as propriedades
da droga no combate ao câncer.
Para o professor aposentado da
Univesidade de São Paulo, no entanto, o apoio das autoridades gaúchas significa
que, a partir de agora, a fosfoetanolamina teria amparo legal para ser
distribuída a doentes, conforme ele afirma em entrevista concedida a Zero Hora:
Médicos contestam medicamento "milagroso" para tratar câncer
O que significa
para o senhor o acordo assinado com o laboratório do governo do Estado?
É extremamente importante porque é o
início da distribuição da fosfoetanolamina para uso em pessoas que têm câncer.
Essa assinatura vai possibilitar a distribuição do material. Porque agora
começam a se fazer os dados clínicos, que é a parte exigida pelas agências de
saúde, como a Anvisa. Começando isso, tem possibilidade de distribuir o
material. É uma situação que durou 25 anos em pesquisa e agora inicia para o
tratamento.
Como assim,
distribuição?
A tecnologia será fornecida para o
laboratório, e o laboratório vai começar a fabricar as cápsulas.
Decisão que suspende entrega de fosfoetanolamina vale só para São Paulo
Mas o termo de
cooperação não é para o laboratório realizar estudos?
Estudos clínicos. Sim. Mas existe uma
lei brasileira que permite usar um remédio experimental em seres humanos, com
permissão própria. Por exemplo: eu assino um termo de compromisso sabendo que
esse material é de pesquisa e que não tem aprovação ainda.
Então para o senhor
este acordo é importante porque daria amparo legal para distribuir a
fosfoetanolamina?
Exatamente. É essa a ideia.
Em que fase estão
os estudos sobre a substância? O que ainda precisa ser feito?
Isso é muito discutível. Porque essas
fases não têm um rigor do ponto de vista científico. Tem um rigor do ponto de
vista legal. Tem de primeiro fazer isso, segundo, aquilo, e tal. São normas
impingidas pela própria Anvisa. No meu ponto de vista, todas as fases foram
cumpridas, mas não na ordem que é descrita pelas agências reguladoras.
Opinião: a fosfoetanolamina e a indústria do desespero
Teve
testes em camundongos, por exemplo?
Em camundongos já foi testada 500
vezes.
E
os estudos clínicos com humanos?
São 25 anos de pessoas tomando. Como
é que pode comparar isso?
Como o senhor viu a
a polêmica envolvendo a fosfoetanolamina, especialmente a contestação dos
médicos?
É desgastante. Mas cientificamente
nunca foi discutido. O que existe são ataques. Sob esse ponto, sou radical:
eles fizeram ataques reles, não científicos. Primeiro, o médico não é
cientista, então jamais iria entender o que eu falo. Segundo, não sou médico.
Jamais iria entender o que ele fala. Mas existe uma coisa no meio que se chama
ciência. A ciência não é médica nem química. A ciência é o que é.
A polêmica da fosfoetanolamina no combate ao câncer
Por que o senhor
não conseguiu levar adiante a pesquisa no passado?
Esse dado que você tem é vivo, mas
não é real. Porque a realidade é que a pesquisa foi de cabo a rabo. Nasceu, foi
criada, foi estudada, foi usada e funcionou. Às vezes tacham que eu sou um
irresponsável. Não. Irresponsável é quem fala que eu sou um irresponsável.
Primeiro porque não conhece a ciência. É um coisa infantil e incoerente. E é
falta de inteligência.
O que impediu o
senhor de conseguir o registro como medicamento na Anvisa?
Nada. É só orientação. Porque não
tinha a área médica. E a área médica nunca conseguiu interagir comigo. Uns
dizem que eu sou muito difícil para coisa, mas não é nada disso. Trata-se de
vontade de fazer dados clínicos.
"Essa é a minha esperança", diz gaúcha que obteve direito à
fosfoetanolamina
Pacientes de todos
os tipos de câncer têm obtido na Justiça o acesso à fosfoetanolamina. O senhor
acredita que ela é eficaz contra todos os tumores?
Todo mundo diz que tem 150 tipos de
câncer. Até reconheço que isso é verdade. Mas a pergunta que se deve fazer não
é qual o tipo de câncer. A pergunta é qual tipo de célula tem cada um desses
cânceres. As células são duas, só. A natureza não sabe fazer outro tipo. Uma é
a aeróbica, que respira oxigênio para fazer o metabolismo dela. A outra é
anaeróbica, que não faz o metabolismo usando oxigênio. O câncer é anaeróbico.
Fosfoestanolamina age em sistema anaeróbico. Faz com que a célula entre em
morte programada. Isso está escrito em centenas de livros.
Por que, então, não
surgiu interesse por estudar essa substância fora do Brasil?
Você é que pensa. Você é que pensa.
Agora mesmo acabei de receber um convite de um laboratório suíço. Ninguém manda
um convite para uma substância mais ou menos ou talvez. Tenho lá e-mail de onde
você quiser: da Coreia, dos Estados Unidos, da França, da Alemanha. Mas eu moro
aqui. E não é questão de vaidade. Daqui pode ir para o mundo. Por que tem de
vir do mundo para cá? Não é uma pergunta que você deveria fazer?
Stephen Hursting: "Um terço dos cânceres seriam evitados com
mudanças na dieta"
No final de todo
esse processo, o senhor acredita que vai ficar provado que tinha razão?
Não quero que prove nada sobre mim.
Quero que cuide dos doentes. Porque eu vi resultados fabulosos. Você não pode
se omitir sobre isso. Nem é questão de desumanidade. É questão de hombridade.
Fonte> zh.clicrbs.com.br